sábado, 24 de setembro de 2016

Capítulo 65 - Dias Nublados.

     
         A dor na nuca parecia uma pontada, como se um prego gigante estivesse perfurando meu pescoço e que dois sacos de areia estivessem sob meus olhos os impedindo de abrir. 
  
   Lentamente consigo abrir os olhos e me deparo com o teto de gesso branco e as luzes incandescentes fazem meus olhos doerem, a dor reverbera por toda minha cabeça e o meu corpo, que  está tão mole quanto uma gelatina.

- E bom vê-la acordada - Diz uma voz baixinho e serena ao meu lado, logo uma figura de cabelos grisalhos  para a minha frente me permitindo vê-la. - Sou a Doutora Rose e ficarei com você esta noite - A encaro, tento falar algo mas a dor  na cabeça é tão forte que desisto da ideia. - Está segura senhorita Richards estamos no polo das fronteiras. - Fala numa tentativa de instalar paz em mim e a encaro, tento refazer meus passos, recobrar a consciência e lembrar da minha estadia anterior, estava no prédio do cativeiro, tinha um bebê dormindo esperando ser resgatado e de repente tudo se fez escuro. - Qual é o seu nome ? - Ignoro a pergunta, por que não consigo me lembrar ? Otto... Onde está Otto ? - Senhorita consegue falar ?

- Onde está o agente Brown ?

- Nesse momento em reunião com os membros do conselho.

- A quanto tempo chegamos ?

- A quinze horas senhorita, diga-me seu nome.

- Aurora Richards, como vim parar aqui ?

- O agente Brown a trouxe. Onde mora ?

- Lori. - Sinto minha cabeça rodar e voltar a pesar, não consigo levantar.

- Levou uma pancada forte na cabeça e os analgésicos estão fazendo efeito, é normal se sentir tonta. Descanse um pouco a comandante Breslau logo chegará e...

- Quero ver o agente Brown. - Exijo a interrompendo. 

- Descanse senhorita.

- Agora! - Ouso berrar mas minha voz não sai tão alta quanto desejo, a única coisa que consigo são mais dores, no fim das contas a médica me deixa sozinha no quarto com minhas tonturas e mesmo que não queira, mesmo que lute insistentemente  contra o sono o cansaço me domina e volto para o escuro antes de vê-lo.


       Uma voz grave faz meus neurônios voltarem a se reconectar, a ouço como se estivesse no final de um corredor, o tom aumenta repentinamente me trazendo para fora do escuro, cada vez mais perto, cada vez mais alto, reconheço a voz, é Otto. 

-  Foi bem intenso - Diz voltando a  baixar o tom da voz -  Acho que matei duas pessoas - Confessa em segredo, tento abrir os olhos mas não consigo, não consigo levantar o braço e retirar os sacos de areia de cima dos meus olhos, estou presa em meu próprio corpo. -Talvez minha conduta me deixe fora de combate por um tempo mas não sabia o que fazer, estava com tanta raiva  minha estrela... - Sinto seus dedos quentes sob minha bochecha fria, não consigo abrir os olhos. - Entenderei se não quiser namorar um assassino mas... - Tento novamente, a intensidade das luzes  incandescente me atingem com força me fazendo lacrimejar, lentamente abro os olhos e o encontrando encarando minhas mãos, sinto seus dedos quentes passeando por meus dedos, fazendo carinhos em minha mão esquerda tão fria. - Perdoe-me por deixar aquele vagabundo agredi-la, perdoe-me por causar dor em você,  se eu pudesse voltar atrás....

- Faríamos exatamente o que fizemos hoje. - Respondo baixinho. - Obviamente não podemos voltar no tempo e corrigir as coisas, se pudéssemos não aprenderíamos nada depois, é o passado que nos torna quem somos não podemos mudá-lo mas podemos aprender com ele.

- A quanto tempo está acordada ?

- Tempo suficiente para ouvir que sou namorada de um badboy.

- Não faça chacotas com isso senhorita, não está em condições.

- Estou sempre em condições para fazer chacotas senhor Brown, mesmo sentindo um leve incômodo na mente.

- A doutora Rose disse que o remédio poderia causar tontura...

  - E eu ouvi quando ela disse - Digo o interrompendo. - Senti sua falta.

- E eu a sua - Diz me encarando, com delicadeza ele planta um beijo molhado no centro da minha testa e em seguida em meus lábios - Cheguei a uma decisão hoje mais cedo.- Fala baixinho como se estivesse sussurrando.  

- E qual seria ? - Pergunto no mesmo tom. 

- Você nunca mais vai pra combate.

- Discutiremos isso quando eu estiver em condições de argumentar. - Digo baixinho. -  O que aconteceu com o bebê que estava comigo ?

- A pessoa que a agrediu atirou nele antes de fugir.

- E ele tá bem ?

- Ele morreu Aurora. - Aquelas palavras promovem um frio dentro de mim, que se converte em indignação, quem mataria um bebê ? Que pessoa desumana seria essa capaz de fazer uma barbaridade de tal tamanho ?

- E os outros bebês ? - Pergunto baixinho com medo da resposta. 

- Os que vocês retiraram do prédio estão na enfermaria e os outros... Nem todos conseguiram ser salvos.

- O que quer dizer ? O que impediu os agentes de... 

- O prédio explodiu - Diz me cortando. - No momento em que Thália e eu retirávamos crianças pelas portas principais.

- Thalia morreu ?

- Não.

- Ah.

- Mas muitos agentes e crianças morreram.

- Vocês conseguiram encontrar Charlie ?

- Sim, conseguimos  encontrar o Charlie.

- Ele estava dentro ou fora do prédio quando explodiu ? - Pergunto tentando controlar o frio na barriga, não posso falhar com Ashe, não da mesma maneira que falhei com Tina.  

- Fora. - Diz Otto baixinho fazendo meus tremores passarem, não sabia que estava tremendo até ele apertar meus dedos. 

- Ele ta aqui ?

- Esta.

- Ele ta bem ?

- Não Aurora, ele não ta bem.   


   Não sei como ou quando, o momento que cai no sono se perdeu dentro do oceano de confusões que se tornou minha mente, mas lembro de sentir os lábios dele em meu rosto quando me deixou a sós no quarto e lembro de ser acordada com o barulho da porta sendo batida com força. 

    Quando voltei a abrir os olhos devagar vi Tia Sara usando o uniforme do GOECTI e caminhando até mim, a cama abaixou lentamente quando ela sentou ao meu lado e as mãos frias tocaram meu braço. 

- Estou suja. - Digo baixinho, sei o que ela está pensando e sei que assim como Otto ela ficou com medo de que a morte viesse para mim antes da hora.

-Você está viva. 

-Acabai de chegar de uma missão e não tomei banho, estou suja Tia Sara não me toque. - Mas ela ignora e me abraça da mesma forma

-Não faça questão por besteira gatinha, você nos deixou assustados sabia ? 

-Só desmaiei, o que tem susto nisso ? - Digo tentando dar de ombros. 

-Você seria agredida até a morte. 

-Eu tô bem. - Sorriu amarelo. 

- Você não toma jeito. 

- Conseguiram prender os chefes da quele lugar asqueroso ?

- Quatro deles, todos os dos retratos falados inclusive a mulher que você havia mencionado. 

- "Quatro deles" E quantos eram ? 

- O agente Persen afirma serem cinco, nem o agente Brown nem a agente Farzone conseguiram capturar a pessoa que a surpreendeu então deduzimos que ele seja o quinto elemento. 

- Então ainda estamos caçando ? 

-Não, nós estamos casando, você foi dispensada. 

-Não pode me dispensar. - Digo indignada, não é justo, só porque cai não significa que estou inútil, eu posso lutar, eu consigo. 

- Posso e vou, sua missão era estourar o cativeiro salvar os jovens e nos guiar até as pessoas que a sequestraram, você fez a sua parte. 

-Não pode me descartar como se eu fosse um copinho de plástico Tia Sara.

-Mas não irei admiti-la numa corporação responsável sem o mínimo de treinamento.

-Jason me...

-Não, ele não fez, você precisaria fazer o treinamento do GOECTI com aulas e professores e testes, só me mostrou o quão irresponsável fui em mandá-la numa missão desse nível sem preparação. 

-Eu estava preparada.

-Se estivesse teria percebido quando se aproximaram por trás e renderam-na. - Tento engolir as lágrimas mas é inevitável.  - Quando terminar o ensino médio vai pegar suas coisas e se inscrever para qualquer faculdade do mundo, quero você o mais longe daqui possível, você vai se tornar uma advogada e protegerá as pessoas mas de uma maneira diferente. 

-Eu sei o que quero, e não quero ser advogada. 

-Ainda tem dois meses para decidir querida mas a opção que envolver o GOECTI está descartada.

-Sou maior de idade eu decido o que faço ou não. 

-E eu mando aqui e decido quem entra ou não.

-Isso é injusto. 

-Quer falar de injustiças comigo Aurora ? Pela segunda vez eu quase a perdi, não deixarei a possibilidade de uma terceira acontecer, isso eu não vou deixar. 

- Tenho o direito de viver a minha vida. 

-Isso não é viver Aurora, estará o tempo todo correndo riscos de morte quero que você seja normal.

-Eu não vou ser normal. - Grito. - Por toda minha vida era a única coisa que eu desejei mas não posso, não consigo apagar os últimos meses Tia Sara, não entende ? Não tem como ser normal depois de uma experiência como essa, não existe essa possibilidade para alguém como eu, estou tão suja nessa histórica como você está, como os meus pais estiveram. 

- E eu irei limpá-lá, nem que seja a última coisa que faça. - Antes que pudesse responder uma batida na porta rouba atenção, Tia sara vira o rosto em direção a porta e permite a entrada, com esforço ergo-me na cama e consigo ficar sentada, é quando percebo que não estou usando o macacão azul escuro do GOECTI mas o vestido branco da enfermaria. 

    A doutora Rose aparece do outro lado da porta parecendo sem jeito, Tia Sara ergue a sobrancelha dando incentivo para que ela fale e ela junta as mãos atrás do corpo. 

- Desculpe a interrupção comandante mas o jovem está piorando, os antídotos não estão funcionando, o veneno é desconhecido nessa região e não conseguimos contatar um especialista do norte. 

- Que menino você ta falando ?- Pergunto, não pode ser ele, por favor não seja Charlie. 

- Não conseguem neutralizar as toxinas ?

-Já tentamos senhora mas é inútil, ele morrerá em poucas horas os rins e fígado já começaram a falhar. 

- Tem que ter alguma coisa que possamos fazer.

-Não temos senhora, nossos recursos já se esvaíram o GOECTI comporta os melhores médicos do país e nem um deles conseguiu fazer nada, ele morrerá em algumas horas mesmo se os aparelhos continuarem ligados. 

- Quem vai morrer ? - Pergunto.

- Charlie querida. - Que seja outro, por favor. 

- O irmão de Ashe ?

- Levou dois tiros no tórax, seria uma cirurgia fácil mas as balas continham veneno, um veneno estranho do norte que desconhecemos o antídoto e reage aos medicamentos que temos. 

- Preciso vê-lo. 

-Você precisa descansar.

-Ele vai morrer! Eu preciso vê-lo agora! - Tia Sara pede a doura Rose que traga uma cadeira de rodas, descubro que minha mochila estivera no chã ao lado da cama o tempo todo, ela coloca sobre minha pernas e saímos do quarto de Otto em direção ao elevador, Tia Sara aperta o quinto andar em direção a enfermaria e descemos, por que isso está acontecendo ? Por que sou tão azarada a ponto de matar todos os irmãos mais velhos das pessoas que amo ? 

    Tia Sara conduz a cadeira de rodas pelo corredor da enfermaria, os quartos estão superlotados, pessoas correm por todos lados com carrinhos de emergência ou verificando os pacientes, nunca vi tantos meninos juntos em toda minha vida. 

- A maioria tem queimaduras graves e outros anemia forte mas ficarão bem.

   Tia Sara me guia até a ala de terapia intensiva, a mesma que Tina esteve e que também está lotada, quando entramos vejo uma figura usando azul escuro de plantão sobre a cama de Charlie, Otto. 

- Eu prometo cara. 

- Comandante Breslau. - Diz Otto com um aceno de cumprimento e em seguida olha para mim -  Com todo respeito senhorita Richards mas o que está fazendo aqui ?

- Eu preciso vê-lo.

-Não é um bom momento.

- Será quando ele estiver morto ? 

- Aurora! - Repreende-me Tia Sara mas a ignoro. 

- Essa é a moça que a salvou ? - Pergunta Charlie com a voz embargada.

- Sou. - Digo alto, tento me levantar mas minhas pernas tremem e Tia Sara me impede de cair no chão da UTI, Otto se levanta da cama de Charlie e me ajuda a sentar em seu lugar.  Encaro o jovem deitado a minha frente, tão magro e provavelmente desnutrido, a pele amarelada devido ao fígado quase morto e os olhos cansados fazem meu coração afundar. 

- Então você é a tal da Aurora. 

- E você o tal do Charlie. 

-Parece que fui o grande motivo da missão de vocês. 

- Ela não esqueceu de você.

- O agente me Brown me disse, parece que temos algo em comum senhorita Richards. 

- Parece que sim.

- Ela esta feliz, Ashley ? 

- Não ficará depois de hoje. 

- Sou grato pro tudo que fez por ela, por tê-la acolhido e cuidado dela. 

- Ela é como uma irmã pra mim. - Digo.

-Parece até uma ironia  - Diz Charlie sorrindo amargo. - Tantas tentativas de fuga para acabar morrendo no dia que sai, a vida é uma merda. 

- Parece que é. - Concordo e ele me encara, seguro olhar pacato e não digo nada, o quarto se torna silencio e instantes mais tarde Charlie se pronuncia. 

- Poderia me fazer um favor ? Quando eu... Quando eu morrer diga a ela que eu amei e me perdoe por não tê-la salvo.

- Por que você mesmo não faz ? - Ele me encara, encaro Tia Sara e peço o telefone, Joana atende e peço para Ashe pegar o telefone. 

- Rora ? 

- Ashe você vai falar com Charlie ta bom ? 

- Ta bom. - Responde com a serenidade e a animação que só Ashe possui, como se ela fizesse aquilo todos os dias. Passo o telefone para Charlie e a doutora Rose o ajuda a segurar o aparelho, ele sorri e deixa uma lágrima fugir quando ela o chama do outro lado da linha.

- Oi pequenina, sentiu saudade da minha voz ?  - Ele tosse uma segunda vez e sorri. Encaro Tia Sara e peço a mochila, Otto a pega da cadeira e me entrega, retiro meu celular, procuro um foto de Ashe recente - Me disseram que você é uma garota corajosa. -  Deixo o celular na mão de Charlie e peço para Otto me ajudar a descer da cama - Eu vou morrer e eu queria ver você. Sinto muito por não tê-la salvo pequenina. Pode me fazer um favor ? Não esqueça nunca que eu amo você ta bom ? Amo muito. - Os sons do aparelho começam a despertar, o coração esta parando,  ele deixa o celular cair no chão da sala antes que a chamada termine, tento forçar o ar pelos pulmões e ficar calma, ele não conseguiu ver a foto de Ashe,  Charlie morreu as cinco horas e trinta minutos da tarde daquele dia nublado de agosto. 






segunda-feira, 11 de julho de 2016

Capitulo 64 - Obedeça.



     O motorista acelera pela estrada esburacada e me seguro no banco de madeira do caminhão e tento não cair, Thalia está silenciosa feito uma cobra ao meu lado, e tento  me acalmar, da última vez quando Otto estava aqui me senti calma mas agora com Thalia parece que as coisas só ficam piores do que já são. 

- Quando abrirem aquela porta quero Jhonson atrás de mim e é melhor você estar atrás dele Richards ou a deixo morrer. - Não digo nada, meus dedos se petrificam no banco de madeira que sacode pela estrada, cinco minutos agonizantes se passam até que o carro estaciona, o agente Jhonson abre a porta e abaixo a minha toca que cobre meu rosto, a noite estrelada está silenciosa quando os agentes começam a pular do caminhão, coloco minha mochila de volta nas costas e caminho até a borda do carro e salto, a estrada de areia está silenciosa, nem agentes ou pessoas estão a vista, o grupo de pulseiras vermelhas se posiciona ao lado da porta gigante de metal onde um agente tenta arrombar a fechadura, rangendo a porta é aberta e os grupos entram, silenciosa seguro na roupa do agente Jhonson e retiro uma arma do coldre  da minha perna, assim como a agente Roberts havia avisado os grupos se dividem na porta antes do saguão, eles seguem pela esquerda e Thalia corre em direção as escadas a direita.


    Thalia segue até o último dormitório do corredor e o grupo a segue, um dos agentes da inteligencia se abaixa sobre a porta e insere um grampo pequeno na fechadura da porta que estala e a porta range.

- O que ta esperando pra fazer o seu trabalho ? - Pergunta Thalia me encarando, o agente da espaço para que eu e mais dois agentes passemos e encontro dois meninos sujos deitados sobre papelões velhos, eles dão um salto quando nos veem,  ponho a mão nos lábios pedindo silencio e eles me encaram assustados.

-Viemos tirar vocês daqui. - Diz um homem ao meu lado, cuidadosa ando até um dos meninos e o ajudo a levantar. 

- Foda!. - Pragueja o terceiro agente ao meu lado, fazendo com que eu e o outro agente olharmos na mesma direção que ele,  percebo naquele momento que o dormitório que Thalia escolheu para ser o primeiro é um berçário.

     Caminho até o primeiro berço com cuidado e me aproximo enrolado numa coberta fina um bebê vestindo azul dorme calmamente, respiro fundo e coloco a arma de volta no coldre, antes que eu olhe para trás Thalia e os demais agentes entram no quarto e praguejam da mesma maneira que o agente, me distancio do berço e checo os outros berços, é um salão com uma frota de berços. 

- Vinte e cinco berços. - Digo por fim,

- Todos contendo um bebês. - Fala um agente alto no final do cômodo. 

- Não estamos preparados para levar recém-nascidos nos caminhões. - Diz uma agente encarando o berço ao meu lado. 

- Não estamos preparados para nada vida agente, peguem um os bebês, avisem as outras equipes sobre o berçário e os levem para os caminhões, assegurem-se que essas bombas não irão chorar - Ordena Thalia,  caminho até o primeiro bebê e com cuidado o retiro do berço, vejo os pezinhos dele se mexerem e o encosto sua cabeça pequena molinha sobre o  meu peito com cuidado, os dois meninos que estavam nos papelões continuam em pé encarando os agentes  no cômodo. 

 - Somos apenas treze, ajudem. - Peço. 

- E quem vai levar os outros ? - Pergunta o garoto mulato com cabelos cacheados. 

- Tem mais ? - Pergunto.

- Cada quarto do andar tem vinte e cinco. - Diz o garoto louro ao lado dele. 

- Agente Farzone. - Chamo Thalia que está no berço dos fundos trazendo um bebê usando branco - Tenho uma novidade pra você - Faço o menino repetir a informação para Thalia e a vejo usando o ponto, certamente notificando a central do pequeno achado. 

    Atiradores vão na frente enquanto sigo para o caminhão junto com os dois meninos que trazem os bebês, enquanto passo pelas escadas vejo agentes saindo de outros cômodos trazendo mais bebês, é uma colmeia. 

       Quando passamos pelo portão de ferro de antes vejo os agentes encaminhando meninos para dentro dos caminhões, forço os dois garotos a me seguirem e entrego os bebês para os jovens sentados nos caminhões prontos para partirem. 

-Ei você - Chamo um jovem tão magro quanto um macarrão e o obrigo a me encarar  - Leve-o.

- Não está autorizada a fazer isso agente. - Reprende um agente com pulseira verde fluorescente. 

- Temos uma colmeia de bebês lá em cima e não temos espaço para acomodá-los, eles vão levá-los - Digo dando o o bebê para o jovem magricela e peço para os agentes da minha equipe darem os bebês para os jovens nos caminhões o fazerem, e eles fazem sem protestar e entram de volta na fábrica. 

   Os meninos que cuidavam do berçário que entramos entram nos caminhões e sentam no chão sem soltar os bebês que carregavam, o agente fecha a porta do caminhão que toma vida e silenciosamente se afasta do prédio, antes de retornar para a fábrica vejo os agentes entregando os bebês que traziam para os meninos e jovens que embarcavam nos caminhões. 


      Corro para as escadas e atravesso o corredor com pressa, estão trazendo os jovens da plantação, pego o segundo bebê que esta vestindo rosa e dormindo, o retiro do berço e volto para as escadas, estou próximo a saída do prédio quando vejo meninos do tamanho de Ashe ou maiores pouca coisa sendo escoltados de volta para o saguão com o agente Rian os guiando, os olhos de Rian se arregalam ao ver o embrulho em meus braços, sigo o agente e os meninos pequenos até o caminhão e entrego o bebê para o menino mais alto que não parecia ter mais que oito anos. 

- Quanto bebês ? - Pergunta Rian ajudando os meninos a subirem. 

- Muitos. - Respondo não muito alegre, será preciso muitas descidas e subidas para retirarmos todos.  

- Thalia nos mandou ir em duplas - Diz o agente Rian ao meu lado, vejo os outros suportes trazerem mais bebês e entregarem aos meninos que sobem nos caminhões. -  Tem dez minutos para trazê-los ou iremos embora. 

- Darei a noticia a chefe do meu grupo. - Digo voltando a correr para as escadas, estou no centro do corredor superior quando ouço o estrondo no piso inferior que faz a madeira do piso tremer e os tiros começarem, alguém puxa meu pulso com força e entro num dos quartos-berçários. 

   Os agentes estão imóveis no cômodo, alguns com crianças no colo esperando o momento para descer mas pararam antes de chegarem a porta,  outros estão com as armas em punho encarando a porta, encaro os pulsos dos agentes e percebo as pulseiras vermelhas, sinto a mão que me puxara e trancara a porta apertar em meu pulso, encaro a luva negra com a pulseira vermelha se destacando, os fios loiros a denunciam.

- Solte-me agente Farzone. - Digo tentando puxar meu braço mas assim como os outros Thalia também está petrificada encarando a porta fechada atrás de mim. 

    O ponto que parece um fone de ouvido transparente está caído sobre o uniforme dela, ele começa a chiar alto como uma música no volume máximo e eu puxo meu braço me afastando dela.

     Thalia coloca o ponto na orelha e espera quem quer que seja falar, um dos atiradores se aproxima da porta e abre uma pequena fresta espiando corredor do lado de fora,  tardiamente percebo que ele também usa um ponto transparente.

   O agente na porta faz um sinal positivo e manda os restante da equipe continuar com a operação.

- Não. - Interrompe Thalia fazendo todos voltarem a parar - Estamos descendo. - Diz pressionando o ponto na orelha como se fosse um celular, ela se volta para os agente e aponta com a arma. - Briton, Christopher, Lloyd, Galvin e Thomas vocês vão descer comigo o restante esvaziem as outras salas. 

- Eu vou também. - Digo. 

- Você fica.

- Estão precisando de reforços e eu vou.

- Estão precisando de de pessoas experientes e você é uma reles novata Richards, obedeça. - Thalia sai a minha frente e os cinco agentes a acompanham, percebo que no corredor agentes de outras equipes se juntam a eles, estão se separando para reforçar o que quer que tenha dado errado no andar inferior.


  Vejo os agentes da minha equipe  passando do por mim levando os bebês dormindo para fora do quarto e de repente me vejo sozinha, respiro fundo e tento evitar os pensamentos que insistem em formular imagens de Otto no chão ferido e precisando de socorros, as imagens dos tiroteios ou que quer que tenha dado errado, corro para os últimos berços mas estão vazios assim como os primeiros, treze berços de madeira velha estão em cada lado do salão, ao todo são vinte e cinco, percebo que o cômodo que parece com um salão tem duas portas, por isso pareceu tão grande anteriormente, analiso cada cama para ter certeza de que todos foram levados. 

    O lado esquerdo já fora completamente evacuado, caminho até a última cama do lado direito e vejo o bolinho pequenino coberto por lençóis brancos, corro até o primeiras camas, estão vazias, ele e o último. 

    Corro até o bebê que dorme serenamente e me debruço sobre o berço, forço minhas mãos para de baixo dos lençóis e de repente me vejo presa, um pano encharcado com álcool e pressionado contra minhas vias respiratórias antes que eu tire o bebê da cama, tento me debater, meus movimentos ficam lentos, o quarto de repente fica lento e uma sombra alta com a barriga avantajada é minha última visão antes de ser consumida pela escuridão. 

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     As pequenas luzes fluorescentes nos pulsos dos agentes fazem a adrenalina despertar em minhas veias, levo o balde meio até o contêiner  parado abaixo da luz falha que pisca o tempo todo, ergo o braços e faço o pedaço de vidro balançar no fio de energia precário dando uma melhor visibilidade aos agentes escondidos no escuro, ouço as pegadas das botas do cara com chicote e ergo o balde, o acerto no momento que ele levanta o chicote para me atingir, vejo os parceiros correrem até ele liberando a passagem do túnel mas caem no chão antes cheguem perto do colega,  nas sombras vejo as pulseiras brilhantes em azul e a agente Roberts vem para a luz. 

- Você é um péssimo escravo Brown. 

- Não nasci pra essa vida Roberts. - Ela sorri e me entrega uma arma pequena com um silenciador encaixado - Ajude a levar os que estão aqui para os caminhões. 

- Onde está a agente Richards ? 

- Evacuando o andar superior. - Ela se vira para o túnel agora silencioso, os garotos certamente estão paralisados encarando a mulher loura a sua frente. - Larguem as picaretas e os baldes moleques, ta na hora de ver o sol uma segunda vez. - Anuncia Roberts - Mas aquele que gritar comemorando vai continuar aqui. - Ouço as picaretas sendo jogadas com força sobre o chão e percebo mais pulseiras azuis espalhadas pelo túnel, silenciosamente eles guiam as crianças até a saída. 

- Charlie ? - O vejo caminhar lentamente até mim e Roberts, assim como os outros ele joga a picareta no chão e nos acompanha. Enquanto saímos do túnel  percebo os agentes posicionados por todo o corredor de acesso aos túneis e pessoas amordaçadas com fitas no chão, foram atingidos nas pernas para imobilizar. 

     Estamos nas escadas de acesso ao primeiro piso quando a nuvem de poeira seguida pelo estouro nos deixam atordoados.

- Fomos percebidos, repito, fomos percebidos, código laranja.

- Brown leve-os para fora - Ela se vira para o agentes atrás dela e ergue a voz. - O restante de vocês comigo agora! - Vejo Roberts e os outros agentes recurem e avançarem para dentro do corredor, corro para a saída com Charlie e os meninos nos meus calcanhares, um zunindo passa por minha orelha ao virar a esquina do primeiro piso e me jogo para atrás fazendo Charlie empurrar os garotos atrás dele, os forço a se encostarem contra a parede enquanto vejo os tiros acertarem o portal ao meu lado. 

- Vamos morrer ? -  Pergunta um garoto louro, pálido pela falta de vitamina d e com marcas negras abaixo dos olhos.

- Não vamos morrer. - Digo. - Não antes disso tudo acabar. - Retiro a arma que Roberts me dera e deito no chão, observo com cautela o movimento na sala do outro lado, ouço outro tiro sendo disparado e me encolho, vem das escadas.

- Pessoas morrem - Digo alto o suficiente para que todos ouçam. -  E muita gente vai morrer para conseguirmos sair daqui, quando mandar vocês correrem, vocês vão correr até o coração de vocês pararem, entenderam ? - Não foi preciso encará-los para ter certeza de que haviam entendido, ergo-me uma segunda vez e os garotos também se levantam, espio a fresta e a vejo, a sombra na escada, miro  nos pés da sombra e ouço um grito, adentro o cômodo e vejo o homem com uma sub metralhadora caído no chão, foi atingido na nunca. 

    Encaro o moribundo chocado e vejo o furo que o meu tiro fez acertou o piso. 

- Meu Deus! - Ouço a voz familiar chamando acima, nos  degraus um grupo mascarado está armando apontando para o homem inconsciente aos meus pés, um agente de estatura baixa  corre pelos os degraus em minha direção e sinto os braços finos dela em pescoço e a abraço. 

- Você esta vivo. 

- Onde está Aurora ? - Pergunto me afastando. 

- No andar de cima evacuando os bebês - Diz amarga se afastando, os agentes descem as escadas e encontram o grupo que me seguia.

- Não tem um andar cima agente Farzone, esse é o andar de cima.

- Sim agente Brown, tem, e é de lá que estamos vindo.  - Encaro Charlie envio o grupo de Thalia para os dormitórios do andar, e subo para as escadas que elas acabaram de descer. Roubo uma das armas de Thalia e a jogo para Charlie. 

- É melhor saber atirar - Digo o encarando e em seguida ela. - Peça reforços para a agente Roberts, não sabemos o que aconteceu... 

-Estão todos escalados agente Brown os agentes que não estão aqui estão transportando os garotos para o acampamento. Só tem a gente. 

- Então continue seu trajeto e encontre a agente Roberts, você vem comigo Charlie. 

- Eu vou com você  agente Brown, somos uma dupla. 

- A agente Roberts  precisa de você agente Farzone.

-Tenho ordens diretas para proteger os desprotegidos e você vai me levar. - Como o esperado os agentes retiram dos cômodos crianças, adolescentes e jovens sujos e doentes, os guiam escadaria a cima e corro até o andar superior que não deveria existir. Thalia vem ao meu lado. 

- Onde ela está ? - Pergunto. 

  - Lá em cima, provavelmente na terceira porta. -Indica para os quartos acima do saguão, forço minhas pernas a correr pelos degraus  de madeira e seguirem até a terceira porta a direita como ela indicou. - Os  suportes que já estiverem encaminhado os bebês para a saída sigam para o andar inferior agora. Repito, os agentes na função de suporte desçam para o subterrâneo agora. - Avisa Thalia no ponto transparente e empurro a porta de madeira marrom com força, não encontro ninguém no cômodo e me aproximo do berço próximo a porta, tem um bebê dentro. - Ele não deveria estar aqui. - Comenta Thalia ao meu lado, a vejo correr por entre os berços e olhar as camas espantada. - Eles deveriam estar sendo levados para os caminhões. 

    O Choro vindo do quarto ao lado rouba a atenção, Thalia sai a minha frente mas Charlie já está na porta quando chegamos, um tiro é disparado o fazendo tombar no corredor. 

     Thalia se abaixa e tira contra um homem vestindo jeans e camisa preta o acertando no coração, ele cai no saguão abaixo fazendo um barulho forte ecoar quando encontra o chão.

-Você ta bem ? - Pergunto encarando Charlie que se contorce de dor. 

- Tô. -  Um grito abafado vindo da ao lado  faz minha espinha gelar, deixo Charlie deitado no centro do corredor e me junto a Thalia que está abaixada no chão, ela  que abre a porta silenciosamente e entra no cômodo e eu a sigo. 

   Ela usa o berço como barreira e eu a sigo, outro grito baixinho e emitido seguido pelo  choro do bebê que desperta.

    Forço-me para a frente do berço e coloco a cabeça cuidadosamente para fora,  no final da salão vejo um homem de estatura média vestido como um dos agentes do GOECTI no chão, com os pulsos presos numa fita prateada. 

    Não somente os braços mas as pernas também estão presas, usaram  a touca do agente para vendá-lo,  cobrindo os olhos e deixando apenas a boca desprotegida, vejo-o outro agente dessa vez mais forte e também usando a touca de proteção chutar o corpo franzino que tomba no chão sem forças.

 - Porque você é uma puta assim como sua mãe. - Grita o agente para o agente tombado sem forças no chão, o sotaque do agressor é carregado, com certeza é estrangeiro. 

   Preparo-me para atirar quando o vejo chutar com força a cabeça do agente fazendo a touca libertar os cabelos que caem em cascata pelo chão, a realidade parece desmoronar por dois segundos, sinto meus dedos congelarem e meu corpo petrificar no mesmo lugar quando vejo os cabelos negros  longos caídos no chão, ergo-me e destravo a arma, atiro contra a figura incontáveis vezes o fazendo correr, Thalia vem a meu encalco e também dispara repetidas vezes, ela corre  a minha frente e pula sobre o corpo de Aurora entrando numa saleta pequena de frente para o berço por onde ele correu. 

    Jogo a arma no chão e retiro as fitas que prendiam-lhe os pulsos, retiro a touca a vejo os olhos fechados, está inconsciente, ele a deixou inconsciente. 

   O choro do bebê faz meus neurônios queimarem, a pego nos braços e a retiro da sala, desço as escadas com pressa e corro para um dos caminhões, a coloco deitada dentro da carroceria de um e retiro o motorista do banco.

-Eu sou só o motorista cara.

- Você é um agente acima de tudo, vigie-a e se qualquer coisa acontecer com ela eu mato você.  - Vou até o caminhão ao lado e forço o motorista a me acompanhar, o obrigo a carregar Charlie para fora e quando entro no cômodo uma segunda vez, vejo Thalia com o bebê nos braços, um bebê sangrando nos braços. 

-Ele fugiu.

-Conseguiu ver o rosto ? 

-Usava máscara Otto. - Encaro o bebê pálido nos braços de Thalia, ele atirou no centro da cabeça da criança antes de sair, sinto a raiva me consumir como o magma que escorre de um vulcão. 

- Me dê a arma. - Peço. 

-Onde vai ?

-Me dê a arma Thalia. - Ele me entrega a submetralhadora e saio do quarto. - Diga para retirarem o restante dos bebês daqui. 

- Onde você vai  Otto ? 

-Vou fazer o meu trabalho. - Digo por fim antes de voltar a descer as escadas e seguir para o andar inferior.  







sábado, 9 de julho de 2016

Capítulo 63- Só Mais Um Pouco.


   

      Duas horas dentro do avião e a única informação que me deram era que a cor da minha equipe é vermelha. Pelo canto do olho observo a agente Meson que analisa a planta do prédio que eles estão, a mesma  que Tia Sara expôs hoje mais cedo antes de sairmos, não deixo de perceber dois pontos coloridos dentro da planta um ponto em azul e outro em vermelho, ambos os estavam parados na parte inferior do desenho em 3D, nas minas.  

- Quais são as coordenadas do agente Persen ? - Pergunto baixinho e a agente Meson faz o desenho girar na tela do tablet.  

- Segundo o agente Becker ele está nas minas. - Responde Meson sem me encarar. 

- E o agente Brown ? - Pergunto sem rodeios.

- Fazendo companhia ao agente Persen. - Diz Meson me encarando, uma voz robótica soa nos auto-falantes do jato ao fundo. 

- Pousaremos em quatro minutos. - Avisa o piloto, fazendo os agentes desligarem os eletrônicos e arrumarem o cinto de segurança, quatro minutos para descermos e ainda não sei minha posição.

- Agente Meson ainda desconheço minha posição. - Digo por fim, já que ela é minha mentora provavelmente saberia de algo. 

- Jower tudo pronto ? - Pergunta a agente Roberts a alguém no telefone e tento ignorá-la, a agente Meson a encara e em seguida a mim.   

- Quando pousarmos setenta e sete pessoas incluindo você irão acompanhar a agente Roberts. - Diz Meson me encarando. 

- Para ? 

- Revisar as posições de cada agente durante o estouro do cativeiro. 

- Estamos pousando. - Avisa o piloto nos auto-falantes fazendo a agente Meson se arrumar na poltrona. 

- Aperte o cinto Richards, vamos pousar.  - Faço o que Meson sugere e me aquieto, assim que o jato começa a descer meus nervosos começam a aflorar, estou chegando senhor Brown. 

     Como da última vez um acampamento com grandes tendas de lona verde escura foram montadas, pareciam  grandes casas de lona, falta pouco para o anoitecer, as primeiras estrelas já estão a vista assim como os agentes armados circulando pelo acampamento. 

     Thalia me empurra para que eu saia da frente das escadas e dou espaço para ela passar, vejo-a seguindo os agentes Becker e Rian para uma tenda ao norte, a agente Meson se dirige para uma das as barracas centrais onde uma maca está sendo introduzida por dois enfermeiros, uma moça de cabelos curtos lhe trouxe o jaleco branco que ela coloca no mesmo instante. 

     Subo as escadas de volta e fico próximo a entrada do jatinho, onde é mais alto,  procuro o coque louro bem feito da agente Roberts pelo acampamento e a encontro indo em direção a tenda negra no lado oeste do acampamento,  a sigo com o olhar e a vejo entrando na tenda negra com o simbolo do GOECTI numa placa branca oval no centro da estrutura, deso as escadas apressada e corro pelas tendas até o destino de Roberts, tento controlar minha respiração quando finalmente chego.

    Com o braço afasto a lona que serve como porta e me deparo com uma grande mesa de ferro no final da tenda com uma única cadeira no centro e onde Roberts está sentada, em cima da mesa uma pequena luz amarela está estendida iluminando o local, dos dois lados do ambiente cadeiras dobráveis estão encostadas, o ambiente lembra um salão de festas vazio, entro na tenda e me aproximo da mesa principal. 


- Achei que tivesse se perdido pelo acampamento. - Diz a agente sem me encarar e observando atenta o que quer que esteja no notebook, a encaro e respiro fundo uma segunda vez. 

- Não me perdi. - Digo por fim.

- Pegue uma cadeira e sente-se, a reunião começará em três minutos. - Olho em volta, pego uma cadeira branca que estava encostada com as outras no lado esquerdo da tenda a armo de frente para a agente Roberts que não ergue a cabeça do notebook e espero os outros chegarem. 

     O que não demora muito. Aos poucos as cadeiras brancas vão sendo armadas em fileira de frente para a mesa da agente Roberts  que parece os ignorar, cinco minutos mais tarde a tenda está completamente cheia, pessoas em pé e umas poucas sentadas, por um breve instante me sinto feliz por ter chegado primeiro e conseguido pegar uma cadeira a tempo.

- Acho que já deu tempo para  todos os convidados chegarem a nossa última reunião antes da grande festa. - Diz a agente com um sorriso felino no rosto e encarando os agentes, um frio me sobe a espinha quando os olhos castanhos dela pousam em mim - Como lhes foi repassado - Diz sem se levantar - Esta é a última vez que discutiremos as posições de cada agente envolvido, primeiramente seguindo as ordens da comodante nem um agente sairá da base sem a máscara de proteção. - Ela aperta um botão no notebook que faz a área de trabalho do notebook dela refletir na lona negra a suas costas, a área de trabalho logo é substituída pela mesma planta que Meson estava analisando antes de pousarmos.  - Esta é a planta do prédio que visitaremos hoje - Ela se levanta e senta na mesa de ferro, do bolso traseiro retira uma caneta com laser verde fluorescente que ela aponta para a projeção na lona. - Os agentes infiltrados aguardarão  aqui - Com o laser verde da caneta dela aponta para os túneis subterrâneos, ah Otto...-  De acordo com as informações que nos passaram os jovens sairão de lá as oito e meia por isso entraremos as oito, fazer o ataque no momento de trabalho chamará menos atenção de quem está aqui. - Diz apontando o laser para a ala superior aos dormitório o escritório deles. - Os alvos estarão aqui quando entrarmos por isso começaremos pelas plantações, em duas horas agentes estarão camuflados nas plantações de trigo usando armas com silenciadores para calar os vigias e vocês suportes irão conter qualquer ato de alegria que esses jovens venham a produzir, será a nossa entrada até aqui. - Ela ponta para o túnel próximo a porta. - Nos levará até as minas e onde os outros estão. - Encaro o corredor que leva até a mina que Otto deve estar, parece ser longo e sem dúvidas estreito também. - Estará escuro e lanternas não serão usadas, os atiradores irão como escudo a frente de vocês usando óculos de visão notura,  nem um barulho será ouvido durante a entrada nas minas, são quinze túneis o que significa que se um chamar atenção um tsunami de sangue vai surgir e vai molhar a todos nós, os atiradores gostam de receber os créditos pelas missões mas sem os suportes silenciando e tirando as pessoas do prédio em silêncio só teríamos sangue e tiros, façam os trabalhos de vocês e mantenham aqueles moleques com a boca fechada até chegarem aqui. - A agente Roberts se levanta da mesa e caminha vagarosamente para a frente do móvel onde cruza os braços e encara as pessoas atrás de mim. - Temos dois agentes infiltrados, passaram três semanas com um alvo na cabeça e até agora não foram percebidos, não estraguem o esforço deles. 

- E quanto a distribuição de cores agente Roberts ? - Pergunta uma voz masculina ao meu lado, quando olho na direção de onde ela vinha vejo o agente Rian de pernas cruzadas enquanto encara sério a agente Roberts que lhe devolve o olhar. 

 - Os atiradores serão os primeiros a entrar, cada equipe contem três atiradores e cinco membros da inteligencia preparados para o trabalho, o resto se divide entre os suportes e agentes de operações especiais, quando estivermos no salão principal os agentes de cores frias seguirão pelo corredor e até as minas, as cores quentes se espalharão por entre os aposentos fazendo a retirada dos jovens que estiverem se apossando dos aposentos quando retirarem todos os agentes os usarão como base para evitar que qualquer um que esteja aqui - Ela aponta uma segunda vez para o escritório deles acima dos cativeiros. - Qualquer um que ousar abrir essa porta irá se deparar com agentes do GOECTI prontos para atirar, mas é claro que eles mortos não me valem de nada, espero que lembrem disso. - Diz desviando o olhar do agente Rian e encarando o grupo a sua frente.

- E como faremos para que um grupo tão grande não seja percebido enquanto se aproxima do cativeiro agente Roberts? - Pergunta o agente Becker que está em pé próximo a lona negra da cabana, por que os membros do conselho estão fazendo perguntas ? 


 - Formamos um cerco de dois quilômetros com veículos e agentes, cercamos a construção e as plantações agente, ninguém sai ou entra sem que percebamos, imobilizaremos qualquer criatura que tente fugir ou se aproxime do primeiro agente que estiver condido nos trigos, assim que as equipes quentes entraram no prédio e vasculharem o andar superior  levando para fora todos os jovens que encontrarem irão fazer os reforços para equipes frias nas minas abaixo. Certamente lá devem haver passagens secretas como no último cativeiro e eles nos levarão por essas passagens, bloquearemos qualquer acesso que dê para fora do prédio. 

- E as posições dos agentes dentro das equipes ? - Pergunta Thalia dessa vez, a vejo em pé ao lado do agente Becker. 

- As posições de cada agente já foram alocadas dentro dos grupos agente Farzone seguindo o mesmo padrão e funções de sempre, os suportes acalmarão e levarão para os caminhões, os  atiradores protegerão as equipes  e imobilizarão os suspeitos, os estrategistas da inteligencia guiarão o grupo dentro do prédio enquanto os agentes da segurança protegerão os suportes e as vítimas até os caminhões onde os motoristas estarão com os motores ligados para saírem assim a traseira estiver com dez pessoas, e eles não perderão tempo para tirá-los de lá. Cada grupo elegeu um representante, obedeçam as ordens de seu representante agentes, a noite será longa. Dispensados. - Os agentes fazem continência para a agente Roberts e se retiram, sigo-os para fora da tenda e sinto a brisa gelada contra meu rosto e tento me acalmar, vejo o rabo de cavalo de Thalia indo em direção as tendas do centro e a sigo, ela deve ser a eleita para dar as ordens no grupo vermelho sangue, caminho vagarosamente pelo escuro atá a tenda que Thalia entrou e tento não pensar no frio que se instalou na minha barriga. Falta pouco Otto. 

       Quando entro na tenda me deparo com outra sala de estar, um sofá espaçoso de couro marrom está de frente para a porta, um tapete caro foi estendido por todo ambiente e uma mesa grande está na lateral contendo garrafas de café, frutas e comida, um lustre potencialmente grande iluminava o ambiente .  

- Temos duas horas até o nosso caminhão sair, é melhor tirar um cochilo. 

- Não estou com sono. - Digo, se eu dormir ela me deixará.

- Isso é com você . -Thalia se senta no tapete caro em frente para a mesa de centro de madeira não muito grande onde alguns biscoitos estão e adentro na barraca, sento no sofá marrom atrás dela que abre o documento do word e começa a digitar. Duas horas. 


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- Então será hoje ? - Pergunta Charlie erguendo a picareta, os braços magros e cabelo grande que lhe cobre os olhos lhe dão um aspecto doente, o que ele certamente deve estar depois de anos confinado no escuro e na umidade. 

-Provavelmente.- Respondo. 

-E qual será o sinal ? 

-Não há sinal, esperamos eles chegarem.

-E como saberemos que chegaram ? 

- Eu não sei mas saberemos - Devagar me abaixo para pegar as pedras de carvão que Charlie acabou de arrancar da parede, são cinquenta pessoas trabalhando aqui e apenas uma passagem para saída onde um deles está, ao lado da saída mais dois estão armados observando os trabalhadores cansados e famintos de mais para estarem aqui, o estalar do chicote seguido pela ardência repentina me roubam os pensamentos, o encontro com o chão lamacento é inevitável. 

- Melhor agilizar verme ou será jogado para os urubus. - Grita o homem as minhas costas, forço-me a me erguer e voltar para próximo a Charlie que não ousa encará-lo e continua dando golpes contra a parede arrancado mais pedras de carvão, cada golpe que dava exigia cada vez mais as forças que ele já não tinha, sinto as pernas tremerem quando finalmente me ergo e pego o balde com pedras para dispensá-lo dentro do carro contêiner de rodas. 

     O escuro do túnel não me permite ver os rostos dos capatazes nem estipular a quantidade deles mas sei que estão espalhados pelo túnel e que os que os caras que chegaram antes de mim já os viram, não conseguirão se infiltrar entre eles quando o GOECTI chegar. 

     Coloco o velho balde de ferro novamente no chão e pego as pedras que Charlie acabou de retirar da parde, ele larga a picareta e me ajuda com as pedras. 

- Você disse que ela está morando com a filha de Heloise Richards - Charlie se cala e espera o barulho dos paços dele, o chicote é estalado uma segunda vez e a mesma voz que estava aqui se forma ao longe brigando com um garoto de doze anos, Charlie e eu somos os mais velhos do túnel. 

-Ela está. - Confirmo.

- Você disse que Ashley perdeu a memória. 

- Mas lembra de você e é por causa dela que vamos tirar vocês daqui. - Charlie volta a pegar a picareta e acertar a parede com mais força, fazendo cada vez mais pedras saírem, sento-me na lama e volto a encher o balde. 


Antes.



   No dia que cheguei além de uma surra avisaram que revesaria o trabalho nas minas com um cara cujo o parceiro havia morrido a poucos dias de infecção, na madrugada seguinte me trouxeram para as minas para trabalhar com ele mas Charlie se devotou a seu trabalho silencioso, graças ao egoísmo dele com a picareta ganhei mais duas surras, o silencio foi quebrado quando mencionei o nome dela. 

- Se não vai me dizer a quanto tempo está preso aqui diga ao menos se já ouviu falar de um tal de Charlie, Charlie Cole Luke.

-O que quer com ele ? 

-Saber se ainda está vivo. 

-Não, ele não está vivo. 

-E como sabe disso ? 

-Porque eles o mataram

-Por que estão parados seus preguiçosos ? - Perguntou o olheiro sacudindo o chicote no chão fazendo-o abaixar a cabeça e pegar as pedras na poça d'água e as colocar dentro do balde, o ar abafado do túnel me deixa tonto e o odor de lixo parece aumentar  a cada dia, me abaixo ao lado dele e começo a encher o baldo com lama. 

- Onde jogam os mortos ? 

- Por que está tão interessado ? Não vamos sair daqui cara. 

-E como tem certeza ? 

-Por que ele morreu tentando fugir. 

-E eu preciso recuperar o corpo.

-O que tanto quer com ele ? 

- A quanto tempo está aqui ? 

-A tento suficiente para não conversar enquanto eles estiverem por perto. - Diz levando os baldes de alumínio até o  contêiner com rodas, pego a picareta e me calo espero até chegarmos na cela que divido com ele. 

     Mas é uma eternidade até lá, quando a porta é finalmente fechada vejo-o se encolher no final do cubículo e me sento ao lado dele.

- Por que quer tanto saber onde está o corpo dele ? 

- Ele tinha uma irmã, Ashley, ela tem sete anos agora ela foi parar num cativeiro parecido com este, seria vendida como um pedaço de carne para o que pervertido que pagasse mais mas alguém apareceu dias antes disso acontecer e elas conseguiram fugir, é por esse alguém que salvou a irmã do Charlie que estou aqui, eu não vou ficar aqui cara e se quiser ir junto precisa me ajudar a encontrar o corpo dele.- Aquela noite não demorou muito para ele revelar quem realmente era, se dei sorte de estar na mesma cela que Charlie não sei mas não terei sorte se ele abrir a boca. 

 Agora

As luzes no teto ainda piscam, Charlie me dissera tudo que sabia sobre eles e repassei tudo para a agente Roberts mas não sei quando agirão, a água suja entrando nos meus sapatos e suor descendo pelo meu corpo me deixam tontos, hoje fazem três semanas, a verei hoje. Minha Aurora.

- Você ta bem cara ? 

- É, eu tô  -Digo pegando os baldes e os levando até contêiner, só mais um pouco, quando retorno é a minha vez de pegar a picareta, acerto a rocha dura a minha frente com força fazendo as pedras menores voarem para as poças de lama. 
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- Agente Farzone. - Chama um homem com uma pulseira vermelha brilhando no pulso esquerdo e fazendo Thalia erguer a cabeça e o encará-lo. - Está na hora. - Diz se retirando da tenda, Thalia fecha o notebook e pega a arma jogada ao lado dela no tapete, seguro minha mochila e a sigo para fora da tenda, nos dirigimos para fora do acampamento onde vários agentes armados nos acompanham, caminhões estão com as traseiras abertas enquanto as equipes sobem nas traseiras dos caminhões, Thalia caminha em direção a um caminhão da direita onde os agentes já estão com as máscaras, um dos agentes a ajuda a subir no veículo e em seguida estende a mão para mim, que sou a última. 

  O agente da porta fecha a traseira do caminhão e as pulseiras vermelhas ganham vida no escuro, abro a mochila com cuidado e retiro a máscara preta que a agente Warison me deu a um tempo, só mais um pouco querido. 



Leia o Primeiro Capítulo.

Capítulo 1. Uma Face Conhecida.

        Há alguns anos o país de Lori conheceu a história de uma amizade verdadeira. Graças a coragem de uma garota de dezesseis anos, outr...